Nem parece que faz um ano e meio que Watch Dogs Legion foi anunciado na E3 2019, prometendo colocar o jogador no papel não de um, não de dois, mas de milhares de personagens com sua mecânica de jogar como qualquer NPC da história.
Nesse meio tempo de seu anúncio ao lançamento, o jogo sofreu um adiamento considerável que resultou em várias mudanças em suas mecânicas, removendo os aspectos de RPG e trabalhando nas características dos personagens para deixá-los mais únicos.
A grande questão que buscamos responder com essa review é: o jogo funciona e vale a pena a compra ou é melhor deixar para outro momento?
Jogue como qualquer um
Essa mecânica é o núcleo do jogo, e não tem como falar de qualquer outro aspecto sem abordá-la primeiro.
As dúvidas que os fãs tinham acerca de tomar o controle sobre os NPC’s eram muitas: o jogo fica sem personalidade? Será que vai travar? A história vai ser comprometida? Os NPC’s serão todos iguais?
Bom, já podemos adiantar que a proposta do jogo de jogar como qualquer um funciona.
E funciona melhor do que o esperado, na realidade. Todos os personagens do jogo são na teoria recrutáveis, com exceção daqueles fixos da história ou que odeiam o DedSec, e eles são de fato únicos.
A realidade é que cada personagem tem uma série de atributos: alguns tem determinados tipos de armas, outros gadgets que vão desde drones até bombas de gás lacrimogêneo.
Temos também um conjunto bem básico de armas brancas que adicionam um diferencial no combate e várias outras características que podem ser combinadas em um personagem para que ele seja o candidato perfeito para o DedSec.
E de fato funciona. Watch Dogs Legion realmente incentiva o jogador a recrutar novos personagens e buscar novos atributos para o seu time.
Mas devemos considerar que esta é uma mecânica inovadora que também tem seus defeitos.
Os personagens são bastante rasos e sem personalidade própria, a dublagem não agrada (especialmente em inglês, o jogo dublado em PT-BR é muito mais agradável) e as missões de recrutamento são repetitivas.
Mas a vantagem aqui é que os desenvolvedores previram isso e basicamente conseguem contornar a maioria destes obstáculos. A começar pela história.
A Trama
Se os personagens que você recruta não são uma maravilha narrativa, o jogo consegue compensar isso com duas vantagens: a trama boa e alguns personagens fixos bastante carismáticos.
Começando pela história, Watch Dogs Legion não inova em praticamente nada, mas tem uma trama que consegue prender o jogador do início ao fim.
A história começa com uma série de bombardeios em Londres que acabam por instaurar um regime totalitário na cidade, comandado pela empresa paramilitar de segurança privada Albion.
O DedSec é falsamente acusado de ser o responsável pelos bombardeios e é expurgado da cidade, restando apenas uma sobrevivente: Sabine, que começa a recrutar os cidadãos de Londres para se erguerem, lutarem contra a Albion e o crime organizado da cidade e inocentarem a DedSec.
Adentrar mais nos aspectos da história seria dar vários spoilers sobre o jogo, mas se tem um grupo que se destaca é o de antagonistas.
São 5 principais vilões em Watch Dogs Legion que realmente cumprem bem seus papéis e tem motivações bastante complexas. Uma das vilãs, inclusive, tem uma trama extremamente profunda que me deixou realmente em dúvida quanto quem estaria certo.
O tom do jogo é outro fator importante: ele é uma mistura entre seus dois antecessores, abordando temas realmente pesados ao mesmo tempo que tem doses de humor forte.
Um exemplo disso é Bagley, a inteligência artificial que é sem dúvidas o personagem mais carismático do jogo, com comentários irônicos e divertidos a cada segundo.
Em suma, a história de Watch Dogs Legion é suficiente para engajar o jogador e suprir as falhas que a mecânica de jogar como os NPC’s traz.
Liberdade é a palavra-chave
O ponto de Watch Dogs Legion é: o jogo é estruturado nas mesmas perspectivas. Logo, muitas missões são parecidas e com objetivos similares.
O que muda nessa abordagem é a escolha que você, jogador, faz. E de fato, a mecânica de jogar como qualquer um faz muito sentido aqui: quer realizar a missão no melhor estilo John Wick ou então sem nem mesmo entrar no local da missão? Você pode, desde que esteja com o personagem certo.
Watch Dogs Legion tem uma estrutura de mundo muito boa. Os cenários são diversos e abertos para várias abordagens, o que é ótimo para os jogadores que curtem liberdade.
O ponto negativo é que em momento algum o jogo estimula o jogador a usar da variedade que ele proporciona.
Tudo depende de você. Se sua escolha for jogar o jogo inteiro da mesma forma, nada te impedirá, mas o jogo pode ficar maçante. Logo, cabe a você utilizar de seus personagens para variar o modo como joga.
E haja variedade, uma vez que são cerca de 9 milhões de habitantes em Londres.
Por falar nisso, o mundo do jogo está muito bonito e bem construído. A Londres de Watch Dogs Legion consegue balancear muito bem a pegada futurista do jogo com os tradicionais elementos vitorianos da cidade.
O mundo convida a ser explorado e contém de fato uma variedade muito interessante de locais, cada qual com suas mecânicas próprias.
Por exemplo, existem áreas inimigas que não se tornarão restritas para você caso tenha um jogador daquela facção.
E além de incentivar a exploração, o mundo também contém uma quantidade decente de conteúdo secundário. Além de um punhado de missões secundárias espalhadas aqui e ali pelo mapa, também existem as atividades de liberação, ou seja, uma série de desafios que você tem que cumprir em cada distrito de Londres para conseguir um personagem único.
Ainda, existem alguns minigames interessantes espalhados pela cidade, como um jogo bem viciante de embaixadinhas e o jogo de dardos.
Performance
Mas o jogo agrada tecnicamente? Bom, para um jogo da Ubisoft ele tem muito menos bugs do que o esperado.
Um problema muito presente em Watch Dogs Legion são os crashes, que afetam a antiga geração e o PC mas que também serão consertados.
Os gráficos são bons, mas pecam em dois aspectos: na água e no cabelo dos personagens. Ambos são visualmente muito artificiais e em alguns momentos chegam a ser desagradáveis.
Sem Ray Tracing, a água não tem senso algum de profundidade, por exemplo.
Quanto às especificações técnicas, Watch Dogs Legion roda a 30 fps e 4K nos consoles de nova geração e em resoluções menores nos consoles antigos, que podem atingir até 1440p de desempenho no jogo, dependendo do seu aparelho televisivo.
O jogo roda suave e tem tempos de carregamento razoáveis, que também serão melhorados na versão de Xbox Series X|S e de PS5.
Conclusão
Watch Dogs Legion é um jogo muito interessante da Ubisoft, e é tão inovador que só por isso já valeria a jogatina.
Mas ele vai além e entrega um mundo cativante e convidativo, contornando bem as falhas que lhe cercam e entregando horas de diversão.
A única coisa que atrapalha o jogo no momento são os problemas de performance, mas como são temporários, não deveriam ser levados em conta no momento da compra. Inclusive, esse jogo seria excelente para poder estrear a nova geração, especialmente com a Black Friday chegando…
