Assassin’s Creed Valhalla é o mais novo título da franquia, levando o jogador a entrar na pele de Eivor, um dos líderes de um Clã Viking que invade as terras da Inglaterra em busca de um novo lar.
Lançado no dia 10 de novembro de 2020, junto com o Xbox Series X|S, o jogo está fazendo bastante sucesso pelo mundo e agradando a maior parte dos críticos.
Mas será que o jogo é realmente tão bom assim ou ele enfrenta os mesmos problemas de seus antecessores? Essa é a principal pergunta que iremos responder na review de Assassin’s Creed Valhalla.
A História
A história de Assassin’s Creed Valhalla começa com uma premissa simples: a reunificação da Noruega e a escassez de alimentos leva Eivor e Sigurd, irmãos adotivos, a buscarem um novo lar nas terras da Inglaterra.
Simples assim, essa é a principal motivação do jogo, que posteriormente se destrincha em diversas histórias atreladas a essa premissa.
Logo no início, o jogador é apresentado a Eivor criança, que vê seus pais e seu vilarejo serem massacrados por uma figura cruel. Com a ajuda de Sigurd, filho do Rei Styrbjorn, Eivor consegue fugir, mas cai em um penhasco e sofre um ataque de uma alcateia de lobos.
Nesse momento, ocorre a seleção de gênero da personagem, e o jogador tem três opções: jogar com a Eivor feminina, com o Eivor masculino ou deixar o Animus decidir com base em qual linha de memória tem maior força.
O porque dessa decisão é um dos mistérios que o jogador deverá entender durante sua jornada por Assassin’s Creed Valhalla, mas fica a sugestão de selecionar a opção de deixar o Animus decidir, pelo menos até a primeira troca de gênero ocorrer, em ordem de facilitar a solução desse mistério.
E por falar em mistério, a história é rodeada deles. Ao se assentar na Inglaterra, o jogador poderá desbloquear diversos trajetos da história para seguir.
Em suma eles são três: o arco do Assentamento, em que Eivor deve forjar alianças para garantir a prosperidade de seu clã; o arco dos Ocultos, que consiste em eliminar a influência da Ordem dos Anciões na Inglaterra; e o arco pessoal de Eivor, que é confrontada com uma profecia sombria da qual a protagonista deve superar.
Todos esses arcos convergem em momentos chave da história e são extremamente bem escritos e elaborados.
Uma das principais críticas a Assassin’s Creed Odyssey foi a falta de profundidade que a história e os personagens tinham, e Assassin’s Creed Valhalla corrige isso com louvor.
Cada personagem que Eivor encontra é memorável e deixa sua marca na história, não aparecendo somente para preencher o espaço de uma ação.
A estrutura do maior arco da história, o do Assentamento, é baseada em séries episódicas. Isso é, cada arco de cada região é fechado em si mesmo, e para concluir uma região você não necessariamente deve ter concluído outra.
Ou seja, a história não é linear, mas isso funciona muito bem, pois impede o jogo de se tornar cansativo: para concluir apenas a história você deve gastar algo entre 50 e 100 horas, dependendo de quão explorador você se dispor a ser.
Além disso, alguns personagens de determinados arcos retornam em arcos posteriores, gerando alguns crossovers bem legais, e um certo arco da história tem uma batalha final que vibra o final de Vingadores: Ultimato (só que na Inglaterra Medieval, claro).
É muito difícil criticar qualquer coisa do aspecto narrativo do jogo, pois tudo é muito bem amarrado e relacionado, além de todas as histórias apresentarem desenvolvimentos marcantes para Eivor e os demais personagens.
Mesmo ao realizar um arco que se distancie dos demais, a evolução de Eivor como personagem e líder é perceptível.
Por fim, vale exaltar o Assentamento, o núcleo de Assassin’s Creed Valhalla. É simplesmente impossível de imaginar o jogo sem o Assentamento, pois ele alinha todos os demais arcos e é o principal impulsionador da história do jogo.
Ao sair para fazer alianças e saquear templos em Incursões, Eivor não está apenas em busca de glória pessoal: existe um objetivo maior, de oferecer ao seu povo um lugar para viver, e de expandir Ravensthorpe, seu lar, para abrigar os mais diversos povos.
O Gameplay
Existem muitos aspectos de gameplay que precisam ser abordados aqui. Assassin’s Creed Valhalla é um jogo enorme, com várias mecânicas diferentes, mas puxando o gancho do último tópico, vamos explorar como funcionam as mecânicas do Assentamento.
Logo ao chegar na Inglaterra o jogador irá se estabelecer no ponto central do mapa, na beirada de um rio. É Eivor que sugere o nome de Ravensthorpe, e logo em seguida a protagonista parte para forjar as tão almejadas alianças.
O Assentamento tem seis níveis, e pode ser aprimorado ao se construir prédios-chave e ao avançar em determinados arcos da história.
Tudo funciona muito bem, e o jogador é compelido a melhorar os mais diversos prédios, pois eles liberam inúmeras possibilidades de gameplay: o Ferreiro, por exemplo, é o único que pode melhorar a qualidade de seu equipamento, enquanto sem a Sede dos Ocultos, Eivor não desbloqueará o menu da Ordem dos Anciões para avançar nessa jornada.
Além disso, a medida que o Assentamento se expande o crescimento do lugar fica evidente, com novos e antigos personagens chegando ao local e aumentando sua população.
Além do Assentamento, outra mecânica importante de Assassin’s Creed Valhalla é o combate, afinal um Viking deve ter bastante estilo ao enfrentar seus inimigos.
A principal inovação do jogo nesse aspecto é a adição da mecânica de empunhadura dupla, que permite desbloquear diversos combos diferentes a depender de qual arma você terá equipada em qual mão.
Assim, o jogador pode equipar qualquer arma tanto na mão esquerda quanto na mão direita, e isso irá mudar como se comportam os ataques leves e fortes do personagem, enquanto o ataque especial será acionado de acordo com a arma equipada na mão esquerda.
Além disso, diversas habilidades e aptidões diversificam o modo com o qual o combate funciona, adicionando novas possibilidades no campo de batalha.
Por exemplo, desbloqueando as habilidades certas, Eivor pode arremessar armas derrubadas pelos inimigos caídos em seus aliados, ou reverter a direção dos projéteis e bombas arremessados em sua direção.
De fato, o combate de Assassin’s Creed Valhalla é desafiador e, ao mesmo tempo, muito dinâmico, sendo um dos fatores mais legais do jogo.
Além do combate, também existe a furtividade, e ao mesmo tempo que ela é mais profunda que em Assassin’s Creed Origins e Odyssey, é fato que essa mecânica ainda não atinge a qualidade dos jogos mais antigos da franquia.
Para entrar no modo furtividade, Eivor deve colocar seu capuz e seu manto, acionados manualmente na roda de ferramentas do jogo.
O personagem pode agachar, se esconder na vegetação e em pontos ocultos, atirar com seu arco e assassinar os inimigos com sua lâmina oculta.
Basicamente, a furtividade do jogo se resume a isso, mas dentro das cidades do jogo são adicionados diversos elementos de furtividade social interessantes, que permitem Eivor se misturar entre monges e nas atividades das cidades.
Em geral, a furtividade de Assassin’s Creed Valhalla é boa, mas não se destaca frente a outros jogos da franquia, como Assassin’s Creed Unity.
Interface e Navegabilidade
Um dos pontos positivos da Ubisoft é a capacidade de realizar jogos com interfaces simples, compreensíveis e navegáveis, logo, iremos passar por esse ponto rápido.
Assassin’s Creed Valhalla tem uma interface intuitiva e agradável de se navegar, sendo que o jogador aprenderá fácil como navegar pelo jogo.
As interfaces de menu são agradáveis e o mapa é convidativo, contando inclusive com efeitos sonoros bem legais que variam de acordo com a região selecionada do mapa.
Uma pequena crítica que muitos fãs de Assassin’s Creed fizeram é a ausência de um esquema de controles alternativo configurado por padrão.
Ou seja, caso você esteja acostumado a jogar com os botões de ataque X e Y (no Xbox), nesse jogo você terá que mapear os botões manualmente, o que pode gerar alguns conflitos inesperados de controles.
Mas além de ser uma solução facilmente corrigível, esse problema já pode ser superado com o auxílio de diversos presets disponíveis na internet.
Além disso, o jogo oferece diversas opções de customização, sendo que tantos os controles quanto o hud são completamente customizáveis.
Em suma, Assassin’s Creed Valhalla dá um show nesse aspecto, e exatamente por isso o jogo foi indicado para essa categoria no Game Awards 2020.
Progressão
Outro fator reformulado em Assassin’s Creed Valhalla é a progressão do jogo, que abandona o loot exagerado e genérico de seu antecessor direto, bem como as barreiras de níveis.
Agora temos um sistema muito mais orgânico e convidativo. Isso ocorre, pois o jogo substitui o clássico sistema de níveis por um sistema de poder, de modo que tanto Eivor quanto as regiões do mapa sejam regidas por essa mecânica.
O interessante aqui é que o poder está mais relacionado com a capacidade de Eivor e os inimigos de atacarem do que de serem invencíveis, ou seja, ao enfrentar oponentes com nível de poder muito superior, o jogador será capaz de derrota-lo normalmente, mas eles serão capaz de infligir muito mais dano no personagem.
Um exemplo interessante aconteceu comigo na Noruega, em um momento no qual fui explorar uma das regiões com alto nível de poder recomendado, 280, enquanto meu poder era menor do que 20.
Nessa aventura, fui atacado por um lobo e quase morri, mas consegui contra atacá-lo e, tomando muito cuidado para não sofrer um ataque, o matei tranquilamente.
Após isso, fui em um acampamento inimigo sendo furtivo para conseguir um Livro do Conhecimento, e fui descoberto, mas consegui matar os inimigos tranquilamente, sempre tomando cuidado para não ser atacado.
Além disso, outro aspecto interessante de progressão é a divisão das Habilidades e das Aptidões. As Habilidades são passivas e são desbloqueadas ao conseguir Pontos de Habilidade, que por sua vez são garantidos ao realizar as atividades cotidianas.
Cada Habilidade obtida aumenta seu nível de poder em 1, ou seja, seu poder é condizente com seu nível de habilidade.
Já as Aptidões são semelhantes as habilidades de Assassin’s Creed Odyssey: são movimentos especiais que podem ser executados a partir de uma combinação de botões que, ao invés de serem desbloqueadas ao subir de nível como no titulo citado, são obtidas pela exploração e desbloqueadas ao se encontrar Livros do Conhecimento.
Um ponto negativo que eu senti em minha experiência foi que o jogo parece um pouco desbalanceado.
Embora normalmente essa critica esteja relacionada com inimigos muito difíceis de serem vencidos, no meu caso foi o contrário: desde o quarto arco do jogo meu nível de poder é bem maior do que o da região sugerida, empecilho que pode facilmente ser consertado no futuro com a adição de uma opção para nivelar automaticamente os inimigos.
Por fim, o aspecto do loot de Assassin’s Creed Valhalla também foi modificado, e agora cada equipamento é único, uma proposta diferente de Odyssey e Origins na qual os equipamentos simplesmente dropavam de inimigos e em baús.
Normalmente conseguir um equipamento envolve superar um mini-puzzle para chegar no baú, e é sempre uma experiência satisfatória, uma vez que caçar novos equipamentos realmente é uma atividade valiosa.
Eles são divididos em quatro tipos de raridade: Regular, Bom, Impecável e Mítico, e todos podem ser evoluídos para o nível mítico com a ajuda de Lingotes e do ferreiro em seu Assentamento.
Dessa forma, o jogador não precisa de se desfazer de um equipamento só porque ele está níveis abaixo de outros de sua preferência.
Concluindo, a progressão de Assassin’s Creed Valhalla ocorre de modo muito mais natural e substancial de seus antecessores, um dos fatores que torna o jogo tão bom.
Exploração e Ambientação
O foco da Ubisoft é construir mundos abertos incríveis, e em Assassin’s Creed Valhalla temos talvez um dos melhores mundos já feitos pela empresa.
A Inglaterra, mapa principal do jogo, é belíssima, com seus quatro reinos diferentes repletos de ruínas romanas e construções medievais.
Além disso, ao explorar o jogo muitas vezes o jogador tem a sensação de estar dentro de uma pintura, algo feito intencionalmente pela direção de arte.
O mundo é dividido em cinco mapas principais: a Inglaterra, a Noruega, a Vinlândia, Asgard e Jothunheimn, com a Irlanda e a França sendo adicionadas posteriormente por meio de DLC’s.
Cada uma dessas regiões é extremamente única e bem construída, inspirando a exploração de seus ambientes.
Os quatro reinos ingleses também dividem os quatro biomas desse mapa, sendo a Northúmbria representante do inverno, Wessex do verão, Mercia do outono e a Ânglia Oriental da primavera.
Já a Noruega surpreende com seus mares gelados e fiordes imponentes, enquanto Asgard se destaca por suas torres e seu ambiente onírico.
A Vinlândia faz uma participação rápida na história, por um objetivo narrativo específico, enquanto Jothunheimn, além de ser um belo lugar, é palco de diversas reviravoltas em um dos arcos do jogo.
Nota: para você que está preocupado com a presença de reinos místicos no jogo, vale dizer que eles estão presentes e se portam do jeito que são por uma razão bem específica e explicada dentro do jogo.
A exploração deixa de ser um maçante jogo de cace as interrogações para descobrir o que tem lá e vira uma dinâmica de realmente levar o jogador a descobrir os diversos locais do mapa.
Assim, os clássicos pontos de interrogação são substituídos por três indicadores: um dourado, que representa as riquezas, um azul, que diz respeito aos mistérios, e um branco, que mostra artefatos.
Cada um desses indicadores é importante para a progressão de Eivor como líder e guerreira ou para a progressão do Assentamento.
Existem vários mistérios para se explorar ao redor do mapa.
Logo no início da campanha, por exemplo, o Oculto Hytham irá te dar a pista de várias Sedes antigas dos Ocultos espalhadas pela Inglaterra, e além de dar um gosto muito bom de Assassin’s Creed, esses locais são um dos melhores exemplos do porque é importante explorar os territórios.
De certa forma, o mundo de Assassin’s Creed Valhalla é tão convidativo que mesmo sem ícone algum a exploração seria um dos pontos fortes do jogo.
Performance
Esse sem dúvida é o ponto mais problemático de Assassin’s Creed Valhalla. O jogo pode rodar em até 4K/60fps, dependendo do console ou do PC que o jogador tiver, e a questão de resolução não é o principal problema.
Muito menos o loading, que apesar de longo nos consoles da atual (agora antiga) geração, é bem rápido em um PC potente ou nos novos consoles.
O principal problema do jogo é a grande quantidade de bugs presentes.
Vale ressaltar, primeiro, que os problemas de instabilidade melhoraram substancialmente com o primeiro patch do jogo, mas muitos deles ainda estão lá.
Screen tearing, inimigos infinitos, marcadores de objetivos que não desaparecem, dificuldade em acionar a opção de diálogo e interação.
São vários bugs presentes e relatados pelos usuários que podem atrapalhar a experiência do jogador.
No meu caso em particular, tive poucos problemas realmente importantes, mas vale ressaltar que mesmo assim, apesar dos bugs, o jogo ainda consegue ser extremamente bom.
Logo, o que a performance do jogo diz é: caso você decida compra-lo agora, pode ser que sofra com vários bugs, pode ser que não.
Conclusão
Assassin’s Creed Valhalla é um dos melhores Assassin’s Creed já feito? Provavelmente. Não existe muito para criticar além da performance do jogo, que é o ponto mais fácil de ser corrigido.
A sensação dos antigos Assassin’s Creed está ali, com o retorno de uma base, da furtividade social, da Lâmina Oculta e dos Assassinos.
As mecânicas de gameplay do jogo realmente pegam o melhor de Origins e de Odyssey, melhoram e ainda adicionam novas melhorias bem divertidas.
A história do jogo é muito cativante e bem escrita, enquanto o mundo é absurdamente belo.
Não fossem alguns pequenos problemas de ritmo, balanceamento e vários bugs, Assassin’s Creed Valhalla seria com certeza um dos melhores jogos de 2020, resta saber se apesar disso tudo ele ainda será capaz de competir com outros títulos como o vindouro Cyberpunk 2077.